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domingo, 15 de abril de 2012

Retrocesso na Guiné-Bissau

(clique no título acima para ver a postagem completa)

O golpe militar ocorrido na Guiné Bissau no último dia 12 de abril, lamentavelmente, não é nenhuma novidade. Ele já vinha sendo preparado há pelos menos 6 meses, desde outubro de 2011. Eu ainda estava lá (clique aqui pra ver mais) quando começaram os rumores.



Isso porque Bubo Na Tchuto , acusado de matar o ex-presidente em 2009 voltara ao país e já movimentava as forças armadas para o golpe. Quando conversei com um diplomata instalado em Bissau (preservo aqui o nome a nacionalidade) tive como resposta de que "esses rumores 
aqui sempre existem". 


No entanto, o país vive uma instabilidade desde sempre e possui instituições muito frágeis, além de um exército altamente corrompido. Com o morre não morre do então presidente Malai Bacai Sanha, e a morte, por doença, em 9 de janeiro de 2012, sabia-se que o caldeirão ía ferver.


Semanas antes já houve uma tentativa de golpe que foi frustrada, mas com a sua morte e a luta pelo poder, com eleições antecipadas tirou-se qualquer chance de manter o que vinha sendo construído.



Infelizmente num momento onde o país recebia cada vez mais cooperação externa, dinheiro e trabalhadores empenhados em transformar essa realidade.


Eu, como um destes, lamento ver tudo dar um passo atras. A Guiné já sofre demais socialmente: miséria, fome e doenças são temas constantes. Este caos militar só piora as coisas, pois provavelmente as organizações externas se retirarão e, claro, a população é quem vai acabar pagando por isso.


Mas, que fique claro, tudo isso já era anunciado para quem quisesse ver.


 
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sábado, 29 de outubro de 2011

Brasil e África, um só continente.

Quando eu olhava o mapa do mundo eu pensava: que grande viagem imaginar que um dia só havia um continente e que eles se separaram.


Semana passada, quando cheguei em Varela, cidade no norte da Guiné-Bissau já na divisa com o Senegal percebi que a viagem era minha de não acreditar.

Na estrada

Varela é um daqueles paraísos terrestres "onde a gente a natureza feliz (vivem) sempre em comunhão".

Era como se eu estivesse chegando numa das maravilhosas praias ao norte da Bahia, onde já estive tantas vezes e tantas vezes já me encantei.


Ou então, ali perto de Pipa (RN) com as falésias ao fundo da costa.

Um lugar tão familiar e querido que por pouco uma lágrima não escorreu pelo rosto. Mas não lágrimas de tristeza ou de saudade, mas de encantamento e alegria por estar ali.

Só que não era tudo.


Esse elemento da natureza que definitivamente me transforma e seduz.

(curioso que escrevendo isso me lembrei de que quando eu tinha 18 anos estava viajando pela costa brasileira com a minha amiga Theda Cabrera e, antes de partirmos ela fez meu mapa astral. E na leitura que fez, me disse que eu devia tomar sempre cuidado com o mar, pois eu me seduzo fácil por ele e posso perder o limite. Nunca mais esqueci isso, e sempre tomo cuidados)
Mas, voltando a Varela, o mar tem a temperatura de uns 20º, ou seja, maravilhoso e relaxante. 

Além disso, passamos o dia (eu, Cintia Gusson e Joaquim Ventura) com 4 crianças locais divertidíssimas e lindas, que o tempo todo nos fez cia e nós a eles.

Para finalizar esse paraíso, que infelizmente, só durou 24h, a pousada:

A "mana Fa" como eles chamam a dona é uma portuguesa, casada com um italiano e que ali se instalou. Ela criou uma pousada com estilo "minha casa", com pequenos bongolôs dormitórios típicos de cidade praiana, como sempre fui na minha infância e adolescência. Seu marido é o cozinheiro e fez taliateli e spagueti original, deliciosos.

Alguém duvida que depois disso fiquei radiante?

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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A felicidade nas coisas simples.

Cada um se sente feliz da maneira que lhe convém.


Uns ficam radiantes quando vão ao shopping center. Outros quando compram um carro novo ou um sapato chique é como se tivessem chegado ao céu.


Para mim, a felicidade está no contato com a natureza. Principalmente, se há água abundante correndo, seja rio ou mar.






Não há preocupação, tristeza, solidão, medo ou frustração que não seja superado quando estou em lugares assim.


Foi exatamente como me senti chegando a Quinhamel, lugarejo perto de Bissau. O lugar é muito normal: um rio, árvores, gente pescando com rede e muitos pássaros. Mas a paz que senti quando sentei de frente ao rio, colado ao barco de um pescador e fiquei ali, contemplando-o e ouvindo os sons da natureza é o que me faz ter a certeza de que, com mais ou menos dificuldade, acabo sempre fazendo as escolhas certas.

sábado, 15 de outubro de 2011

Medo e aflição

Era uma sexta-feira, mais precisamente dia 30 de setembro de 2011, às 18h em Bissau.
Após deixar uma amiga no hotel e ao término de uma semana bem tensa, fui dirigindo a embaixada do Brasil onde encontraria um vendedor de tecidos africanos.


Quando ía fazer a curva na praça principal da cidade, o carro que estava na minha frente parou no meio da rua. Como isso não é incomum aqui, pois os carros param na contramão, no meio da rua, em qualquer lugar, eu desviei e segui adiante.


Vi então que as pessoas olhavam em direção ao palácio destruído na guerra civil e ao andar mais alguns metros observei que alguns militares faziam alguma cerimônia no local.


Pensei:
- droga, não vou poder passar ali agora, mas não vou parar meu carro no meio da rua que nem eles fazem. 




Virei entao para pegar a primeira rua à direita e não passar na cerimônia.
Neste instante vem na frente do meu carro um homem que manda eu parar o carro e começa a gritar algo em crioulo.


Pensei:
- não posso passar nessa rua.


Abri a janela e disse:
Só falo português, mas vou sair daqui.


Engatei a ré e ele segurou o carro gritando algo como: - não mexa esse carro daqui. E me mandou descer do carro, em português.


Começou a berrar comigo que eu estava desrespeitando a bandeira nacional e que como já se viu eu movimentar o carro enquanto estava sendo feita à cerimônia. Que se eu vi que o carro na minha frente parou eu devia ter parado também.


Tentei argumentar que não conheço os costumes locais e que estava à pouco tempo na guiné e pedia desculpas porque eu não tinha tido a intenção de desrespeitar nada.


O homem continuou berrando. Eu então disse que trabalhava para a embaixada e que faria uma ligação.
Ele disse que eu não ligaria coisa nenhuma. Já com as pernas bambas e bem apavorado eu respondi:
- Vou sim fazer a ligação para o embaixador esclarecer a situação com o senhor. 


Liguei e prontamente recebi o retorno no embaixador que perguntou se havia alguma autoridade presente, mas como não havia, ele iria até o meu encontro.


Mais calmo, eu encostei no carro a espera do embaixador. Neste instante vem a tropa que fazia a cerimônia em minha direção e o homem que parou o meu carro deu outro berro (tipo tropa de elite) de que eu tinha que ficar em posição de sentido (militar) o que fiz, me achando ridículo naquela submissão.


Enfim, chegou então o embaixador brasileiro com um oficial do exército brasileiro e o motorista guineense que logo esclareceram a situação e fomos embora.


Por muitos momentos eu senti de fato medo de dali não mais conseguir sair...

domingo, 9 de outubro de 2011

Um mês de adaptação.

Antes de mais nada, quero dizer que custou-me muito escrever esta postagem.


Mas, parece, finalmente posso falar das emoções de estar na Guiné pela 2ª vez e, desta vez, de uma maneira tão intensa.


Para os mais desavisados (a culpa é de vocês que somem da minha vida e não sabem o que estou fazendo...rs), estou aqui a trabalho. Após 8 anos e meio na Fundação Gol de Letra pedi pra sair.


Sem falsa modéstia e também sem arrogância, nesse período fui muito competente nas múltiplas funções que lá desempenhei e tenho muito orgulho de ter saído de lá tendo um ótimo relacionamento com as 3 principais coordenações da casa: Sóstenes, Patrícia e Olga.






Esses três sempre confiaram no meu trabalho e mesmo nos momentos difíceis que lá passei (quem não passa, não é, trabalhando tanto tempo num mesmo lugar?) recebi os seus apoios.


Enfim, graças então à minha competência e ao meu bom relacionamento com eles é que fui indicado a representar 4 instituições brasileiras no projeto educacional aqui na África. A saber: ABC - Agência Brasileira de Cooperação, Ministério da Educação - BR, Fundação Gol de Letra e Instituto Elos.


Não vou descrever aqui as múltiplas funções que exerço, mas sim contar um pouco do como está sendo esta experiência pessoal: difícil!


Primeiro, e talvez principalmente, porque sou branco. O branco aqui tem uma simbologia: é o explorador, o carrasco que sempre destruiu essa terra. Mas, ao mesmo tempo, representa o dinheiro, coisa rara na 5ª população mais pobre do planeta.


Com isso, fica difícil sair à rua sem ser interpelado pelo já tradicional no Brasil: - Tio, me dá um real?!


Fora que, muitas vezes, eles são hostis porque acham que tenho a obrigação de dar o que eles me pedem.


Claro que isso não é em todos os lugares. No bairro onde trabalho sou muito bem recebido e acolhido pelos jovens que lá estão.


Com tudo isso, a reação natural do ser-humano é se fechar e, apesar de ter 2 grandes parceiros brasileiros aqui comigo, o isolamento e a saudade de tudo fica um pouco mais forte.


Se hoje escrevo sobre isso é porque, na verdade, as coisas estão mudando um pouco. Tenho caminhado mais nas ruas, falado com algumas pessoas fora do projeto e, o que me deixou mais tranquilo, ontem fui a uma partida de futebol Guine-Bissau x Angola e pela primeira vez não fomos abordados como estrangeiros.


Estou bastante confiante que este segundo mês aqui vai ser diferente, pois vou relaxar ainda mais e tentar, de fato, interagir com o povo, como sempre faço nos lugares que visito.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Língua, não dialeto.

É muito comum os povos ocidentais banalizarem as linguas de origem africana ou indígena, chamando-as de dialeto.


Porque dialeto é algo inacabado, imperfeito, deficiente, bla, bla, bla.


O crioulo falado na Guiné-Bissau não é um dialeto, mas uma LÍNGUA! (ver COUTO, Hildo Honório.   . O Português e o crioulo na GuinéBissau  in: Português em contato.CARVALHO, Ana M (org)) Uma língua que mistura a língua das etnias que compõe a Guiné.


Segundo eles:
"kriol i lingu di ningin"  (crioulo não é língua de ninguém) por isso, "lingu ku tudu gentis ta papia na Guine" (lingua que todo mundo fala na Guiné).


Ela define uma identidade imposta pelo colonizador, que determinou as fronteiras 
aleatoriamente e estimulou a rivalidade entre as etnias como forma de dividí-los. 


Entender esse processo histórico e seu significado é respeitar a história desse povo, que sabe sua língua e que entende que aprender o português ( a língua oficial do estado) também é importante para dialogar com o mundo.

Todos os dias a gente fala aqui:
Bon dia. Kuma ki bu mansi?
N´mansi ben.


Bom dia, como despertaste?
Despertei bem.

Escritor bissau-guineense lança "Palavras Suspensas" em Brasília

Brasília - "Palavras suspensas", coletânea de poesia do escritor bissau-guineense Francisco Conduto de Pina, editado pela Thesaurus, foi lançado nesta quinta-feira (22) durante evento na Embaixada de Portugal, na capital federal.

A apresentação do livro do escritor e parlamentar guineense, que se estreeou em 1978 com "Grandessa di Nô Tchan" (Grandeza da nossa terra, em tradução livre), no Instituto Camões, foi acompanhada de um recital do pianista Adriano Jordão, que executou a "Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro", de autoria do compositor Louis Moreau Gottschalk.

De acordo com nota dos organizadores do evento, esta foi a primeira vez que um escritor bissau guineense lança um livro em Brasília.

domingo, 18 de setembro de 2011

Sangue de barata

Este blog, nos próximos meses estará mais voltado à realidade Africana, uma vez que tenho um novo trabalho aqui na Guiné-Bissau (clique aqui para ver o que já publiquei em outra ocasião neste país): representante das organizações brasileiras (aqui você pode ver que projeto é esse).


Antes desta primeira postagem, é importante ressaltar que este é um blog pessoal e não reflete aqui, necessariamente a opinião do projeto que eu represento, mas as minhas impressões e relatos do que vejo neste continente, neste país e nesta cidade: Bissau.


Para ver relatos oficiais do projeto sugiro: www.goldeletra.org.br 


Pois bem, como esta não é a primeira vez que aqui estou, vou direto ao ponto deste texto.


Há que se ter muito sangue frio para se viver e se relacionar por Bissau. E isso é muito óbvio pelo simples motivo de que sou estrangeiro e branco.


Neste país, onde a independência da exploração portuguesa tem menos de 40 anos (dia 24 de setembro completará mais um aniversário) o branco é imediatamente associado ao explorador. E mais ainda se você insiste em querer dominá-los pela língua. O português é a língua oficial, mas não é a da população, que fala o Crioulo (aqui a explicação do wikipedia e aqui a de Leo Spicacci , brasileiro que já esteve aqui).






Ocorre, que essa cisão reflete nas relações e, muitas vezes, acirra o preconceito. O simples fato de ter de conviver com o diferente não necessariamente quebra o preconceito e o que estou vendo aqui é que muitas vezes o reforça.


Assim, para muitos que cá estão, os guineenses são lesos, fedidos, devagares e incapazes de ter fácil compreensão de algo.


O que é muitas vezes difícil de entender é que o ritmo, a cultura, a língua e o clima criam hábitos e culturas que não são as nossas e que o diferente é que deve se adaptar e não o contrário.


Nesse ponto me sinto tranquilo. Muito, claro, pela ampla vivência baiana, que me faz adorar o tempo diferente das coisas acontecerem. O jeito diferente das pessoas se relacionarem e outras coisas mais.


Alguns dizem que é uma questão de tempo: uma hora eu me irritarei com isso tudo. Será?


Uma coisa é certa: me irrito por enquanto com essa visão colonizadora. Mas fico quieto, só observando...


quer ver as fotos que
 estou a tirar? 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Poesia Guineense

Eu sou menino de Tabanca


Ao amanhecer piso o chão suado,
Recordo melodias, acalentos.
Eu sou menino cultivador,
Semeio as doces flores no meu sonho,
As minhas mãos adultas se sujam de terra fértil.


A minha barriga é um tambor
Um tambor que não soa dor,
O meu pé é uma enxada que rompe o solo campestre.
Nas noites suadas, a lua apaga-se dentro do meu sangue
(No sangue febril e morno de menino)
Embebedam-se as ervas e as raízes para matar os vermes
Mas estes malignos bichos rejeitam os efeitos
e brincam no meu tambor.


Não posso renegar o que sou
Obedeço a mim de ser o menino de tabanca.
O meu nome está nas folhas das ervas
Nas margens dos arvoredos ou matagal
Não nas folhas do notariado.






Sei que o meu direito é torto, mas,
Na tabanca vivo à vontade
Ninguém me desconhece
A minha identidade está nos calos das mãos e dos calcanhares
Está nos olhares famintos que perfuram gaiolas de passarinhos,
Está nas sombras floridas em que me instalo
Por ser menino, canto esses versos vulgares, melodicos.
Berro e cacarejo enquanto cultivo na terra molhada.
Misteriosamente desobedeço aos preceitos tabanqueiros.
Como se vê, no desvio do meu pranto,
Resgato do chão submerso a esperança de quem sou
Do simples Menino de tabanca que sonha.

António Navegante de Catidi

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Dança interna que começa para sempre.

Já sinto os tambores pulsando a mil por hora junto com as batidas do meu coração.
Os cheiros, as cores, a identidade guerreira e libertária que me tomam há tempos e que agora se torna realidade. 
Realidade nunca imaginada, nunca sonhada.
Mas cada vez mais desejada. Me desafiando, me pondo a prova e me tirando do eixo, se é que um dia já tive algum.
Que seja mais do que transformador. Que seja o começo de uma nova era.
Oxalá!





A romã, a tribo, a procura
O caldo da cultura, o cauim
A quermesse, o curso, a bienal, a escultura
Hosana nas alturas, anjos no céu de Berlim.
Osasco
Osaka
Rosa
Bomba
Maca
Ossos do office-curumim
Dança o povo negro
Dança o povo índio
Sobre as roças mortas de aipim
Dança a nova tribo
Dança o povo inteiro
Dança a moça triste do Benin

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Citação de Amilcar Cabral

"Vivo intensamente a vida e dela recebo experiências que me dão uma determinada direção, uma via que devo seguir, não importa as perdas pessoais que isso exija de mi,. Eis a minha razão de ser na vida"         Amílcar Cabral

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Canal Futura em Bissau

Série de Reportagens sobre Guiné Bissau do Canal Futura. Muitos me perguntam  como é esse país e o que eu fui fazer lá. A matéria sobre educação é do projeto que participei, mas é muito legal ver todas as matérias para conhecer, e bem, o que o Brasil e Guiné estão fazendo juntos.







segunda-feira, 27 de junho de 2011

Finalizando a 1ª ida a Guiné Bissau

Para terminar o relato de minha ida a Guiné-Bissau, publico aqui 4 pequenas matérias da Rede Brasil sobre o país e um vídeo recordação que fiz com fotos e momentos que lá vivi. Se puder, deixe um comentário aqui no blog. (Não precisa ter registro. Quando clicar em comentarios abaixo da caixa de comentário  escolha a identidade nome/url)





Netos de Bandim





Maior parte de Guiné Bissau vive na informalidade




À noite, Guiné-Bissau vive à luz de velas





Minha Viagem Concluída


terça-feira, 14 de junho de 2011

Lideranças comunitárias em Bissau

O objetivo final da minha vinda a Guiné-Bissau foi mostrar aos jovens que é possível usar do teatro como ferramenta de educação de valores, posturas e consciência crítica. Mas, para isso, eles precisariam me mostrar na prática como atuam com crianças.


Mano MM se prepara
Quando chegamos ao bairro São Paulo (sim, este é o nome do bairro em Bissau) vi algo que nunca tinha visto pessoalmente no Brasil. O que de fato é uma liderança comunitária. Muitos dos jovens da associação amizade são líderes, mas o Mano Máquina Motor é uma liderança que alia o desejo de mudança, com o  carisma e o prazer em liderar. 


Ele tem um musiquinha que todos cantam sempre que ele quer começar a falar. Não tenho ideia do que diz a letra da musica, pois só entendo dela o nome dele. O fato é que todos, crianças, jovens e adultos o respeitam e a cantam. E ele sabe disso.


E ai, não sei se é um olhar estrangeirado, este bairro me fez ver de novo o sentido do termo comunidade. Aqui sim se pode dizer assim. COMUNIDADE.


O bairro é na verdade um vilarejo de terra, casas de adobe, água do poço e tudo que você pode imaginar numa comunidade rural sertaneja do Brasil. 


Todos obviamente se conhecem e o grupo de jovens que participa das oficinas que estamos oferecendo aqui são legitimados pelos moradores daqui.


Jovens do Teatro replanejam as atividades na comunidade
Quando chegamos a Bongolô Cultural, uma especie de quiosque que eles construíram já no desenvolvimento desse projeto, tínhamos somente os jovens das oficinas a nos esperar e os moradores nas suas atividades de casa.


De repente, a Bongolo foi se enchendo. Vieram as crianças, os jovens e depois as mulheres e homens e quando começaram a cantar a musiquinha do Maquina Motor dentro da Bongolo já devia ter umas 50 crianças.


E foi assim, com 50 crianças que os jovens tiveram que se virar pra darem as atividades que preparamos para 15...


Pouca gente na Bongolo?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O trabalho em Guiné Bissau.


Trabalho há oito anos e quatro meses na Fundação Gol de Letra. Atualmente minha função lá é AGITADOR CULTURAL, mas ja fiz de tudo muito: fui educador voluntário de teatro no FAC (Formação de Agentes Comunitários), estagiário e assistente de coordenação na Comunicação Institucional, arte-educador de crianças no VJ (Virando o Jogo), educomunicador de audiovisual, novamente no FAC, e voluntário de rede social  na RVAT (Rede Vila Albertina-Tremembé).


A Fundação, e se eu não for preciso em algum dado, por favor, quem tiver a informação exata publica ai nos comentários, desde 2009 tem um núcleo de disseminação de práticas socio-educacionais. Um desses projetos é o de Guiné Bissau. Em parceria com a ABC (Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores - para saber mais clique aqui e leia a página 73 do Catálogo ABC de Cooperação Técnica do Brasil para a Africa em 2010 ) ela vem trabalhando para a missão de implantar um centro educacional na Comunidade São Paulo, aqui em Guiné.  


Jovens lideranças do bairro serão os gestores e executores deste projeto e entre outras coisas ele terá no contra-turno da escola uma oficina de teatro. Fui então convidado para oferecer uma oficina de preparação em arte-educação teatral para essas jovens lideranças.  Além disso, eu e os outros dois colegas de trabalho aqui presentes, Edgard Arantes, analista de projetos e responsável pela sistematização e André Freitas, educador de música conseguimos agregar a participação dos integrantes do grupo teatral de guiné, "US Fidalgos"  e do grupo de música e dança "Netos de Bandim".


No primeiro dia fizemos um trabalho teórico prático sobre o tema. O assunto correu solto sobre Paulo Freire, educação libertária, pedagogia do oprimido e da autonomia. Na prática fizemos alguns jogos teatrais com base no trabalho desenvolvido por Joana Lopes e sistematizado no livro "Pega Teatro".


A próxima etapa será a de preparar e executar uma atividade prática para as crianças do bairro.


obs: com exceção das fotos, as imagens são ilustrativas e retiradas de links no google.
  

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A riqueza do povo em Guiné- Bissau.

Como já era esperado, o contato com as pessoas seria o momento da mudança entre o visto com os olhos e os contatos e as relações humanas.


Tudo começou numa "assembleia" no Bairro Militar, perto da comunidade SP, onde está em implantação o Centro Educacional. Havia uma polêmica sobre o Regulo, chefe tradicional e dono da terra. 




Independente da polêmica do Regulo, o curioso foi a reação das pessoas à nossa chegada. Claro, éramos ETs chegando de carro, brancos e falando uma outra lingua, porque apesar deles falarem Português, a língua do povo aqui é o Crioulo (clique aqui para ler o post sobre essa lingua do Leonardo Campos, estagiário da UNESCO aqui em Guine-Bissau).


Mas, aos poucos, fomos nos aproximando e, claro a receptividade foi imediata. Nuno, o menino desta foto conversou comigo e me ajudou a tirar as demais fotos.


No final, as crianças dando adeus dizem mais do que qualquer palavra. Não acham?



terça-feira, 7 de junho de 2011

Saneamento Básico em Guiné-Bissau.

Saneamento básico.


Um tema caro para os guineenses. Na rua principal da capital, Bissau, você encontra a mensagem: "O Paludismo é a principal causa de mortes e doenças na Guiné- Bissau. Ajude a combatê-lo!"
Paludismo é o nome técnico para Malária, causada por protozoários parasitas.

Caminhando pelas ruas não é difícil de entender as razões dessa "epidemia".~

Na foto abaixo você vê uma delas. A rampinha cobre o esgoto que corre a céu aberto e na altura da rua. A maioria das casas têem essa rampinha e o esgoto correndo a frente delas. É como se você andasse pela Avenida Paulista e a sua direita corresse um pequeno córrego de esgoto com algumas rampinhas na porta de cada edifício para entrar neles.


Logo se percebe o quanto de mosquito, ratos e outros transmissores deve-se ter por ali. Mas, infelizmente, isso não é tudo. Parece que não há coleta de lixo, então, pelas ruas, pequenos "lixões" se instalam. 

Mas fico mal de descrever Bissau desse jeito, afinal sei que todo bairro/cidade com problemas também tem sua riqueza e coisas muito interessantes.


Por isso, não vou ficar a descrever catástrofes e a colocar o país como o fim do mundo. O que eu vejo aqui não é muito além do que já vi no complexo da maré - RJ, em algumas áreas da Vila Albertina, ou em muitos bairros de Salvador - BA. 

Só que não dá para ignorar tudo isso nas primeiras impressões do lugar. Mesmo porque, nosso primeiro sentido é a visão. O conhecimento, o contato e as relações virão depois e , creio, é nessa área que tudo irá mudar.

Guine-Bissau

É realmente muito dificil fazer um primeiro texto sobre esta nova experiência que é estar na África e, em especial, Guiné-Bissau.
Bissau é um país a leste do continente, o que seria a "continuação" do estado do Pernambuco quando supostamente os continentes eram juntos.
Então, pra começar, dá pra dizer que a "geografia" daqui é muito semelhante. Clima quente, por vezes árido, com muita terra e poeira e, claro, isso determina muita coisa.

Exibir mapa ampliado

Por exemplo:
as roupas usadas são em geral leves e com cores.
Nos bairros pobres, as casas são feitas com tijolos de barro, construidos com a terra tirada do chão.

Claro que dizer bairro pobre, em termos sociais e econômicos, é um eufemismo. Porque não existe bairro rico. Mas mesmo dentro da homogeneidade da pobreza há uma diferença social gritante. E é dessa diferença que surge o trabalho que estou fazendo aqui, de cooperação na implementação de um projeto social na Comunidade São Paulo.

Mas disso volto a falar depois. Termino essa primeira impressão apenas dizendo que, com muitas diferenças, o que vejo aqui não é muito díspare do que já vi em minhas muitas andanças pelo nordeste brasileiro, especialmente no seu sertão.